Se vocês soubessem, senhores,
onde o povo vive chorando,
não compunham elegias
nem a Deus à toa bendiziam,
rindo das nossas lamentações.
Não sei - por que chamam
uma casa no bosque
de paraíso aconchegante?
Sofri no passado numa casa dessas,
derramei lágrimas nela,
as primeiras lágrimas! Sei lá,
há no mundo de Deus uma desgraça
que naquela casa não tivesse havido?
Mas a chamam de paraíso!
Aquela casinha no meio do bosque,
na ponta da aldeia, ao lado de um tanque,
não a chamo de paraíso.
Nela minha mãe me enrolava,
enrolando, cantarolava,
sua aflição para a criança
transferia ... Naquela casinha,
naquele bosque, no paraíso,
eu vi o inferno... a escravidão,
o trabalho pesado, nem se permitia
fazer uma oração.
Lá, a desgraça e a fadiga
jogaram minha mãe querida,
jovem ainda, na sepultura.
Meu pai, chorando com as crianças,
(Éramos pequenos e maltrapilhos),
não suportou a desventura,
morreu na servidão!.. Como ratinhos
nós nos espalhamos no meio do povo.
Eu fui à escola servir água a escolares,
os irmãos, a cumprir a servidão,
até os levarem os militares!
As irmãs!.. Oh, irmãs! Que destino,
minhas jovens columbinas!
Para quem vocês vivem no mundo?
Como servas, vocês cresceram estranhas,
Como servas vão ficar grisalhas,
Como servas, irmãs, terão suas mortalhas!
Até dá medo quando me lembro
daquela casinha na ponta da aldeia!
Deus nosso, fazemos tais coisas
neste nosso paraíso,
neste mundo justo seu!
Neste paraíso criamos o inferno
e suplicamos outro ao Senhor;
Vivemos em paz com os irmãos,
aramos os campos com irmãos,
e os regamos com lágrimas de irmãos.
E, talvez, também até aquilo... Não, não sei,
mas assim parece... Só você...
(Pois se não fosse a vontade Sua, Deus,
não andávamos no paraíso maltrapilhos à toa!)
Ou, talvez, você mesmo lá nos céus
ri-se de nós, paizinho,
até, talvez, aconselha-se com senhores
como governar o mundo?! Pois veja:
Lá o verde bosque se arqueia,
e detrás do bosque um pequeno tanque
a um pano se assemelha,
E os salgueiros-chorões, seus verdes ramos
calmamente banham nele... Um paraíso, não é?
Mas olhe e pergunte,
o que acontece nesse paraíso?!
Sem dúvida, alegria e glorificação
a Você, o único santo,
pelos Seus feitos maravilhosos!
Esse é o caso! Glórias – a ninguém,
mas sangue, lágrimas e humilhação
- humilhação em tudo!
Não, não! Não há
nada santo nesta terra...
Parece-me que até a Você mesmo
o povo já amaldiçoou!
1850. Oremburg.
Tradução para o português — Emílio Gaudeda, 2016
Tendo ficado em Vilna um pouco mais de um ano, o patrão de Chevtchenko mudou-se junto com os seus lacaios para Petersburgo, levando também Chevtchenko.
Percebendo o dom de pintura em Tarás, o senhor dele resolve colocá-lo no estúdio do pintor decorador Vassel Cheriaev. Com ele, Chevtchenko participa na decoração do Teatro Bolchói como desenhista aprendiz.
Em São Petersburgo, Chevtchenko trava conhecimento com o seu conterrâneo Ivan Sochenko. Lá também ele se encontra com K. Briullov, V. Jukovsky, V. Hrehoróvitch, O. Venetsianov, A. Mokrêtskei, que tiveram posteriormente um papel decisivo na libertação do poeta da servidão.
Graças ao empenho pessoal insistente, Chevtchenko progride significativamente na pintura. Ele se torna um retratista maravilhoso e um mestre em pintura aquarelista, devido a seus sucessos nos estudos, é agraciado pela Academia com três medalhas de prata, em 1840, pelo quadro “O menino pobre que dá pão a um cachorro”, e em 1941, pelo quadro “A cigana sortista”. A primeira pintura pela qual Tarás Chevtchenko recebeu a medalha em 1939 não se conservou até os nossos dias.
Ao contrário dos outros estudantes da Academia, ele pinta nas suas obras pessoas do povo – uma moça serva, crianças, cigana e outras, tentando chamar atenção da sociedade para o povo oprimido.
Estudando pintura na Academia, Chevtchenko conhece a história da sua pátria, da Grécia, de Roma, as melhores obras dos escritores de vanguarda da Rússia – Puchkin, Lermontov, Gogol, lê obras de escritores ucranianos – Kotliarévskei, Kvitka-Osnovianenko e outros.
Ele conhece também obras famosas da literatura da Europa Ocidental, estuda francês, tudo isso eleva o nível político e cultural do poeta de modo significativo.
Em maio de 1843, Tarás Chevtchenko com Evhen Hrebinka partem para a Ucrânia. Viajando pelas aldeias e cidades, ele conversa com o povo, pinta uma série de paisagens e esboços.
No início de junho, ele viaja a Kiev e região, trava contatos com estudantes e intelectuais, faz pesquisas sobre monumentos históricos e culturais, anota canções folclóricas e tradições, pinta paisagens e arquitetura antiga.
No fim do verão, viaja pelo Sul da Ucrânia. Logo depois, em outubro, fixa-se em Iahoten, nas dependências do príncipe Mekola Riepin.
No fim de fevereiro de 1844, volta a Petersburgo, onde continua os seus estudos na Academia de Artes.
Em maio de 1846, Tarás Chevtchenko se conhece com o historiador Mekola Kostomárov, um dos organizadores da Sociedade Cirilo e Metódio, e a partir de dezembro começa a participar das suas reuniões, onde lê aos membros da Sociedade os seus poemas revolucionários.
A Sociedade se compunha de estudantes e membros das Universidades de Kiev e de Khárkiv. Além de Kostomárov e de Chevtchenko, entre eles havia líderes, como H. Andrúzkei, V. Bilozérskei, M. Hulak, P. Kulich.
No dia 5 de abril de 1847, Chevtchenko foi preso na entrada de Kiev devido a uma denúncia e enviado a Petersburgo.
Dia 30 de maio de 1847, saiu a sentença imperial do seu exílio para a Corporação Isolada de Oremburg como soldado raso, “sob severa vigilância, com proibição de escrever e de pintar”. Ele ficou prestando o serviço na fortaleza de Orsk.
Apesar da vigilância severa, Chevtchenko pintou um autorretrato, continuou compondo poemas, anotando-os em cadernos pequenos “escondidos nos canos das botas”.
Em maio de 1848, Tarás Hrehoróvitch Chevtchenko foi incorporado como membro da expedição do contra-almirante Oleksíi Butakov. A expedição tinha por missão explorar e trazer um relatório científico sobre o mar de Aral. Durante a expedição, Chevtchenko pintou uma série de paisagens e continuou a trabalhar as suas composições literárias.
Em novembro de 1849, depois da longa travessia pelas estepes selvagens, o poeta chegou a Oremburg.
Durante o seu serviço militar no exílio, ele fez parte de uma expedição aos Montes Karatau, quando, apesar da proibição, pintou perto de 100 quadros. Em 1852, Tarás Chevtchenko começou a escrever em prosa, em russo. Logo depois, as suas condições de exilado foram amenizadas graças às relações amistosas com o novo comandante da fortaleza.
Em 1885, ele começa a se corresponder com o artista e vice-presidente da Academia de Artes Fyodor Tolstoy, tratando da sua libertação.
Tendo adoecido gravemente em fins de 1860, Tarás Chevtchenko continuou trabalhando, correspondendo-se com os amigos, pintando.
Tarás Hrehoróvitch Chevtchenko deixou esta vida no dia 26 de fevereiro de 1861. O seu corpo foi sepultado no cemitério de Smolensk, em Petersburgo, mas depois, em vista do seu “Testamento”, seus restos mortais foram transladados para a Ucrânia.
Dia 10 de maio de 1861, perto da cidade de Kániv, no monte Tchernetcha Horá, Tarás Hrehoróvitch Chevtchenko foi sepultado.
A contribuição imensurável de Tarás Hrehoróvitch Chevtchenko para a cultura mundial é reconhecida não só na Ucrânia, mas também fora dela: no mundo todo há mais de 1.200 monumentos a Chevtchenko, há cidades com seu nome, ruas, instituições de ensino, em sua homenagem produzem-se inúmeros filmes e apresentam-se peças teatrais.
Chevtchenko se tornou para sempre uma parte inseparável da história e da cultura do povo ucraniano.
Agradecemos pela visita à nossa biografia interativa de Tarás Chevtchenko.
O nosso objetivo era criar um representação interessante e útil da vida do grande poeta do mundo.
E é bem por isso que nós desejamos aperfeiçoar esta página, dando-lhe cada vez um colorido melhor.
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